segunda-feira, 18 de abril de 2022

Assistindo a séries: Ruptura (Severance)

 


 

Bonjour à toutes et à tous!

Acaba de acabar a primeira temporada de uma série de ficção científica chamada Severance (Ruptura, em português) cuja existência descobri graças ao blog Cinegnose - o qual, confesso, tem sido o responsável pelas minhas escolhas fílmicas nos últimos anos.

O enredo é a convivência de funcionários da empresa Lumon (que não sabemos como gera sua riqueza ou de onde vêm seus investimentos) que aceitaram ter um chip implantado em seu cérebro para criar uma divisão de personalidades: uma delas trabalha e a outra não. A vantagem, para o funcionário, é que ele trabalharia sem carregar para seu ambiente profissional os problemas da vida pessoal e vice-versa. Se eu não entendi errado, o funcionário é o inner e a pessoa externa, o outer.

Tudo vai bem até que uma nova funcionária é admitida e, de acordo com a gravação do momento de sua implantação de chip, estava até muito animada para passar pela experiência. 

Entretanto, sem sequer iniciar seu trabalho - num setor chamado processamento de microdados, em que os funcionários selecionam intuitivamente conjuntos de números e colocam numa pasta de arquivos - ela pede para sair, mas, sempre que empurra a porta para fora, volta a se ver empurrando a porta para dentro. Ela fica furiosa e acredita que estão sacaneando com ela, quando, na verdade, o outro eu dela, o outer é que volta quando se vê sair antes do horário do fim de expediente.

Essa mesma funcionária - pasmem - tenta se mutilar para obrigar seus superiores a despedi-la, gravando um vídeo com a ameaça para sua outer e, mais uma vez, lá está ela de volta à empresa com um vídeo gravado pela sua outer dizendo que não irá pedir a demissão e que é bom ela não se mutilar ou ela vai ter de trabalhar assim mesmo.

Nesse mesmo momento, lembrei-me de uma vez em que, nos tempos de faculdade, um amigo falou que o capitalismo não tinha mais para onde ir. Ao o que eu respondi: "a próxima fase vai ser somática. O capitalismo será parte do nosso corpo". Nunca imaginei uma situação tão próxima da autoescravidão. Imagine se você pudesse escravizar a si mesmo durante oito horas diárias e nunca se lembrar do que fez no trabalho, lembrando-se apenas de que entrou num elevador e que, imediatamente, está saindo desse mesmo elevador, como se nunca tivesse ido trabalhar.

O seu outer, provavelmente, seria muito feliz. Mas e seu inner? Que só se lembra da porta do elevador abrindo para chegar ao trabalho?

Já dei spoilers, mas meu papel aqui não é preservar as pessoas do que acontece e sim chamar a atenção para como acontece, como a história é contada. E vou mandar mais um: aparentemente a Lumon tem como produto o próprio chip a ser implantado em cada trabalhador do mundo e, quiçá, cada pessoa na face desta Terra. 

Com que objetivo? Muito provavelmente impedir a formação de memórias ruins, sentimento de culpa, arrependimento, coisas que nos fazem, muitas vezes, abandonar um emprego de merda ou um relacionamento abusivo.

Espero sinceramente que a série - se vier a ter uma segunda temporada - mantenha a pegada e não desvie para virar aquela americanada de sempre.